quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Norte





          Por que sempre a essa época se a data por si só não tem nenhuma significação aparente? Já ando me sentindo desorientado há algum tempo e só hoje caiu por inteiro a ficha de que minha bússola não anda apontando para o norte. Não sei para onde tem apontado, mas estou certo de que não é o norte. Não me reconheço. Aliás, ando com a sensação de que pouco me conheço. Não sei. Não sei mesmo. 

          Reorganizar pensamentos. Reorganizar ideias, ideais. Organizar sensações, sentimentos. Me reorganizar por inteiro, ou até onde meus pés alcançarem. Dar uma faxina aqui dentro. Antes de voltar a caminhar: parar, olhar pra dentro e ao redor, e ao menos me situar, antes de tornar a caminhar.


                              Buscar uma direção. Buscar... buscar... buscar...

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Aquele sorriso... Já era tarde e no meu retorno pra casa, me sentia muito cansado. Com uma fome violenta de renovação, já tinha exorcizado parcialmente alguns fantasmas e achava que a noite ia ser das piores, que eu iria chorar horrores e finalmente conseguir findar um ciclo, de forma bem dolorosa. Minha atenção foi atraída pra uma criança de aproximadamente um ano, com seus pais no metrô. Fica em pé, com a ajuda da mãe, olha diretamente pra mim e... sorriso. Gigante! Desarmei. Já não conseguia pensar em motivos pra me angustiar. Instintivamente, retribuí o sorriso e ficamos por razoável tempo nessa troca de afeto, tão instintiva e espontânea. Um tempo depois, a mãe não deixou-o andar, pelo perigo de uma freada do metrô, e ele desatou a chorar. Perdi a atenção dele e fiquei agoniado, queria me despedir porque a minha estação estava chegando. A mãe o consolou e quando eu ia descer, o foco do afeto dele era a mãe e então eu saltei, meio triste porque não ia conseguir me despedir. Numa tentativa final de despedida, já na escada, olhei pra trás. O pai apontava pro “novo amigo” da criança e ele abriu um sorrisão de despedida. Portas fechadas e o metrô parte, me deixando com uma sensação inabalável, de uma alegria transcendente, irradiante. Há uma grande possibilidade de eu nunca mais encontrar com essa criança por aí, mas desejo profundamente que ela cruze e contagie a vida de muita gente durante sua caminhada. Estes se chamarão privilegiados.


Obrigado, pequeno anjo. Que você possa atrair tanta luz quanto você transmite.




terça-feira, 10 de junho de 2014

Sobre Jardim Gramacho, Rio de Janeiro





Um lugar onde a cada visita, vejo um propósito ainda maior. Muita coisa passa pela minha cabeça quando vejo o contraste entre uma das cidades mais ricas do Rio de Janeiro e um lugar miserável, abandonado. Você se sente confrontado quando vê que enquanto acha que sua casa precisa ser reformada, ou sonha ter uma casa na praia, muita gente ali sonha em ter uma casa de verdade, com o mínimo de estrutura possível. Você se sente confrontado quando vê crianças fascinadas com um brinquedo usado, enquanto você reclama do seu celular moderno, que já foi trocado duas vezes no ano. Quando vê gente sonhando em poder ter ovo na panela, enquanto mesmo que todo dia, você coma algo diferente, reclame porque não pode almoçar num restaurante hoje.

A cada visita, vejo o quanto eu tenho e nem sempre sou grato o suficiente por isso. A cada visita, naqueles olhares, vejo esperança de dias melhores. Vejo sorrisos e uma chama de esperança, mesmo que trêmula, ainda existente ali. E tenho fé de que essa chama vai crescer.

Feliz por crer que essas sementes florescerão. Que somos capazes de devolver a dignidade que essas pessoas merecem e têm direito. 

Feliz de, mesmo sabendo que ainda há muito trabalho a se fazer até o nosso objetivo, o Criador continuará a dar forças e a colocar gente disposta cruzando nosso caminho, pra que o nosso objetivo se cumpra!

Gratidão por ter a oportunidade de vivenciar isso. E de ter a oportunidade de escolher lutar por isso!

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Quando a cidade dorme...



... o frenesi diminui, as pessoas voltam a seus lares para o descanso.
O coletivo pulsante se retrai, para que logo cedo ele possa voltar a pulsar freneticamente.
Mas não é apenas isso que eu vejo quando a cidade dorme...

Também vejo abandono, desespero...
Vejo pessoas que nunca tiveram oportunidade de saber que a vida também tem o lado doce, e que vale a pena se permitir.

Eu vejo fome, vejo infâncias roubadas...
Não apenas nas periferias, também nos becos e nas ruas das grandes metrópoles. E até mesmo nas mansões, com toda sua pomposidade e sistemas de segurança avançadíssimos.

Vejo gente que espera a cidade apagar suas luzes para poder semear a escuridão, mesmo sem fazer ideia de quão auto-destrutiva a escuridão é.

Vejo violência, miséria... escassez material, escassez emocional...

Mas também vejo a escuridão se dissipar, abrindo alas para um novo dia.
Porque sempre amanhecerá dentro de nós.

Somos a mudança que tanto desejamos.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Firmamento
















           Se minha câmera não me limitasse a isso, tenho certeza que a melhor recordação em fotografia desse paraíso seria uma foto do céu à noite. Estrelas. Milhões delas faiscando pelo céu. Um mar de pontos cintilantes, tão únicos. Tão próprios e tão imponentes. O céu dá um espetáculo que deixa evidente o capricho da criação. E evidencia a gentileza divina ao nos presentear dessa forma. Eu posso sentir tudo ao mesmo tempo: a sensação incrível de estar conectado ao Sagrado, a gratidão por poder testemunhar isso, por ser parte disso e a esperança de um dia poder inspirar tanta esperança quanto elas.
           Ah, firmamento! Graça sendo compartilhada, sendo acessível a qualquer ser humano. Um misto da consciência da nossa pequenez, aliada à sensação de que nascemos para ser luz, e pra contagiar outras pessoas com essa luz que carregamos. E a sensação de que por mais que pareça surreal, as estrelas são os nossos queridos que mudaram de plano, mas encontraram uma forma de continuar a nos guiar. 
           Seja como for, volto agora a contemplar meu maravilhoso presente.



                                                                  Emanemo-nos amor!


(Ilha Grande, janeiro de 2014)